Os artistas plásticos José António da Silva e José Santa-Bárbara formalizaram a doação de duas obras de sua autoria à CGTP-IN, numa cerimónia que decorreu na sede desta confederação sindical, em Lisboa, a 4 de Março de 2022.
José António da Silva doou a escultura cerâmica intitulada "Unidade"
Unidade. Assim se intitula a escultura cerâmica oferecida por José António da Silva, um título que evoca um dos princípios fundamentais do movimento sindical representado pela CGTP-IN, tal como inscrito nos seus estatutos.
Confessando preferir falar com as mãos, o artista dirigiu algumas palavras a uma audiência composta por dirigentes dos principais órgãos de direcção da CGTP-IN, por activistas e funcionários sindicais. Começou por agradecer a cerimónia e evocou o seu percurso artístico e profissional. Nasceu em Loures, em 1949. Cedo se interessou pelas artes, tendo estudado Desenho de Equipamento e Decoração na Escola de Artes Decorativas António Arroio, cursando, mais tarde, Cerâmica no Centro de Arte e Comunicação Visual (Ar.Co). Ainda assim, sempre exerceu o ofício das artes em concomitância com as tarefas de manga de alpaca, na área da Contabilidade. Destacou ainda a sua ligação ao movimento sindical. Por volta de 1979, integrou a direcção do sindicato dos químicos e participou na exposição InterArte, organizada pela CGTP-IN e pela União dos Sindicatos de Lisboa, patente ao público na Escola Superior de Belas Artes, em Lisboa, entre 16 e 27 de Outubro de 1986.
Os seus trabalhos abarcam várias formas de expressão artística, desde a escultura cerâmica até à pintura e à azulejaria. Participou em várias exposições individuais e colectivas e está representado em numerosas colecções nacionais e estrangeiras.
José da Silva, que Eduardo Raposo afirma ser «[…] verdadeiro e naturalmente o Poeta das formas do sorriso do choro do abraço.»[1], tem o seu estúdio em Almada, onde também tem a sua obra representada, no Núcleo de Arte Moderna do Museu Municipal, Casa da Cerca, e divide a sua actividade artística com o ensino.
José Santa-Bárbara doou a pintura intitulada "A Troika"
A Troika, a pintura oferecida por José Santa-Bárbara, data de 2009 e parecia antecipar o período negro recente da nossa história colectiva.
Falando aos presentes, o artista destacou alguns momentos do seu trajecto artístico e profissional. Nascido em 1936, em Lisboa, tomou contacto com as artes pela mão de seu pai, que o levava a visitar o Museu de Arte Contemporânea, e pela mão de sua avó, com a qual, sempre que havia necessidade de adquirir alguma peça de barro, se familiarizou com o ofício da olaria. Tal como José António da Silva, estudou na Escola de Artes Decorativas António Arroio e, mais tarde, frequentaria o curso de Escultura na Escola de Belas-Artes.
Participou em numerosas exposições individuais e colectivas e tem obra pública de escultura e cerâmica em todo o país. O Monumento Nacional ao Ferroviário, no Entroncamento, e os painéis de cerâmica na estação do Pragal e em Santa Apolónia são alguns exemplos.
De entre as suas exposições individuais, destaque para a que inaugurou a 19 de Agosto de 2001, na Biblioteca Nacional, em Lisboa, intitulada Vontades: uma Leitura de Memorial do Convento, pelo que sublinha desta obra de José Saramago: o esforço anónimo dos operários, o terror da Inquisição, entre outros aspectos.
Também se destaca na medalhística, com trabalhos alusivos ao 25 de Abril e aos caminhos-de-ferro, por exemplo, e no design gráfico, tendo sido o autor do símbolo da CP e desenhado capas para os discos de Zeca Afonso.
"Um testemunho de carinho e solidariedade pelo papel histórico da CGTP-IN" – Fernando Gomes
Moderando a sessão, Fernando Gomes, membro do Secretariado e da Comissão Executiva do Conselho Nacional da CGTP-IN responsável pelo Centro de Arquivo e Documentação, agradeceu o gesto de ambos os artistas, que interpreta como um testemunho de carinho e de solidariedade pelo papel histórico que a CGTP-IN tem desempenhado na luta pelos direitos e pela dignidade dos trabalhadores.
Contextualizou as ofertas como decorrendo da participação de José da Silva e de José Santa-Bárbara, com as mesmas obras, na Exposição de Artes Plásticas que a CGTP-IN organizou por ocasião do seu 50.º aniversário, que esteve patente ao público no Páteo da Galé, em Lisboa, entre os dias 3 e 25 de Julho de 2021.
Acrescentou que estas doações são ainda o testemunho de que a relação entre a cultura e o trabalho, um vínculo que se estabeleceu desde que o movimento sindical nasceu como força de coesão e de unidade dos trabalhadores, continua hoje bem viva entre nós.
As obras doadas são o "reconhecimento do papel da CGTP-IN como defensora dos direitos dos trabalhadores e da transformação da sociedade" – Isabel Camarinha
Isabel Camarinha, secretária-geral da CGTP-IN, encerrou a cerimónia agradecendo a participação dos artistas na Exposição de Artes Plásticas da CGTP-IN e as doações que agora se formalizavam por considerar que, pela sua autoria, pela sua mensagem, pelo seu simbolismo, enriquecem o acervo museológico da CGTP-IN, e porque são o reconhecimento do papel da CGTP-IN como defensora dos direitos dos trabalhadores e da transformação da sociedade.
Com a missão que prossegue, a CGTP-IN e o movimento sindical que representa estão também a contribuir para garantir que os trabalhadores têm condições para usufruir da arte e da produção cultural. Lembrou, a este propósito, que a CGTP-IN, considerando a cultura como uma das componentes essenciais do papel do Estado, defende que o Orçamento do Estado dedique, pelo menos, 1% à cultura, um sector muito afectado pela precariedade laboral.
Garantiu que a CGTP-IN tudo fará para que, juntamente com todo o património museológico que já custodia, estas obras possam ser apreciadas e usufruídas pelos trabalhadores.
[1] Cfr. José António Silva – Testemunhos sobre a sua Obra [Em linha]. [Consult. 4 Mar. 2022.] Disponível em: https://jasilva.pt/.